quinta-feira, 31 de março de 2011

Beijinhos ao contrário


Quem me conhece sabe que, já por mim, não sou pessoa com gestos muito coordenados. Tenho de me concentrar antes de descer uma escadaria para não me estatelar no chão, sempre que vou estender a roupa reflicto sobre o que as minhas mãos terão de fazer para não ir tudo parar ao estendal do vizinho e não são raras as vezes que o conteúdo da minha chávena de café salta lá de dentro para colorir a mesa.

Como se a minha luta diária por uma melhor coordenação motora não fosse suficiente, chego aqui e ainda me trocam as voltas. Então esta gente não me dá beijinhos primeiro pelo lado esquerdo? Sempre que vou cumprimentar alguém, digo para mim: “Sofia, primeiro tens de dar a bochecha esquerda, a bochecha esquerda, a bochecha esquerda.”

Mas depois chega a hora H e pareço uma anormal. Nem para a esquerda, nem para a direita, nem para lado nenhum. Fico ali com a cabeça aos círculos e com um interlocutor um pouco confuso, sem saber o que esperar da portuguesa, a nova raça que acabou de conhecer.

Desde que cá estou já foram dois chochos e muito corante na cara logo a seguir. Pior é que a coisa não está propriamente a melhorar. A solução agora é ficar parada, de alma aberta e lábios cerrados, à espera que venham de encontro a mim.

quarta-feira, 30 de março de 2011

São servidos?


É dia de inauguração cá em casa. Agora que temos forno, o mundo da culinária que nos aguarde!

Hoje foi a vez do lombo de porco com laranja marchar para o pirex. Já tenho os ingredientes para o cheesecake, a quiche e o entrecosto com mozarela. Estou a tornar-me numa verdadeira casalinga e a gostar mais da aventura do que o que pensava.

Comida, amigos e um baralho de cartas. Não dá para pedir mais.

terça-feira, 29 de março de 2011

“O drama, o horror, a tragédia…”

Imaginem que foi o Artur Albarran quem disse esta frase para perceberem a dimensão da coisa.

Quando achei que os meus dias negros em Florença tinham acabado, eis que abro o tampo da (nova) máquina da roupa, no final da lavagem, e todo o chão se enche de água. Com a pressa de acudir a tudo, tropeço no detergente que entretanto tinha mudado de poiso para não morrer afogado e grande parte do pozinho branco espalhou-se pelo chão.

Quando o problema está aparentemente resolvido, vou à janela estender o tapete encharcado e eis que oiço uma voz do além: “São vocês que têm um bebé que começa a chorar à meia-noite não são? Eu não aguento mais, vou chamar a polícia!” “Não, nós somos apenas duas pessoas, estudantes portugueses.” “Perceberam bem o que eu disse? Eu sei que são vocês que têm um bebé e se o barulho voltar, a polícia vem aqui ao prédio.”

E foi assim que num dia em que tudo corria bem, conheci o meu novo vizinho. Ele rendeu-se, deitou-se no chão numa manifestação de desespero. A mim apetece-me gritar, ou quem sabe chorar como um bebé, mas só a partir da meia-noite.

"Diga não às casas de banho mistas"

Este seria um dos slogans principais da minha campanha caso me candidatasse ao lugar de Berlusconi. Esta coisa de entrar na casa de banho e ver um homem, às vezes muitos, a lavar as mãos faz-me faísca nos neurónios. Fico sem saber donde vim nem para onde vou.

Não faz sentido nenhum a pessoa levantar-se da mesa do bar para ir retocar o batom e ver se está tudo bem com o rímel e o lápis preto e de repente, a partilhar o mesmo espelho, surge reflectida a imagem de um gandulo que não desvia o olhar.

Sempre que entro numa casa de banho aqui em Itália, a sensação repete-se e penso: “Ai Jesus que me enganei e vou ver o senhor desnudo no urinol, deixa-me já voltar para trás”. E depois não, está tudo bem. Homens e mulheres passeiam tranquilamente no mesmo espaço,  partilham as mesmas sanitas, os mesmos sabonetes. Tudo.

Desde pequenina que me ensinaram que no que ao xixi diz respeito, as meninas vão para um lado, os meninos para o outro. E agora, só porque mudei de país, devassam-me as minhas aprendizagens mais básicas?

Não há cusquices nem maledicências entre amigas. Nem sequer dá para puxar os collants para cima sem ter de esperar na fila. Aquela coisa da entrada triunfal depois de termos penteado o cabelo e retocado a maquilhagem também perde a piada porque o presente é desembrulhado antes do tempo.

E isto é tão anti-natura! Um atentado à privacidade feminina.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Apaixonei-me pela minha casa, e agora?


Não tenho aqui vindo porque ando enamorada. De há um dia para cá que para extravasar a minha felicidade faço uma espécie de patinagem artística com meias nos três metros de chão que tenho livres na minha nova casa.

Já me tinha esquecido do que era dormir sem cheiro a humidade, tomar banho sem ter a cabeça quase a tocar no tecto (e olhem que eu só tenho metro e meio), ter mais do que um pano da loiça, um jogo de lençóis e uma panela.

A minha nova casa é simplesmente linda e eu sou uma inquilina que se baba muito sempre que olha para ela. Tem um candeeiro que me ilumina os escritos, uma cama de verdade - em vez de um sofá cama a cair de podre – um polibã que dá para três pessoas tomarem banho ao mesmo tempo (não discuto gostos alheios), um fogão vitrocerâmico em vez do amigo bico eléctrico, um ferro de passar que só é pena não trabalhar sozinho e um sem fim de utensílios de cozinha.

Tem ainda A janela, grande com portadas brancas a fazer lembrar as vivendas chiques dos filmes americanos. E pronto, assim de repente, não me lembro de mais nada.

Para rematar, fica a dois minutos a pé da Ponte Vechio.

Vim aqui contar-vos isto e agora vou-me só esticar ali na colcha vermelha a ver notícias. Estive sem televisão quase dois meses pelo que pareço a criança a quem deram um brinquedo novo.



sexta-feira, 25 de março de 2011

Primi piatti: a melhor forma de passar uma fomeca valente

O conceito de refeição por aqui é um bocado para o enfarta brutos. Antipasti, primi piatti, secondi piatti, contorni, dolce. Vai tudo para dentro em pouco mais de uma hora. Para quem já era anafadinha com a sopa e o peixe cozido da mamã está a modos que lixada, mas isso é outra conversa.

Serve este post para tornar pública a minha indignação perante a forma como esta gente come massa. A pessoa pede um primi piatti, que é a opção mais barata do restaurante, com a desculpa não que é tesa mas que o estômago não aguenta tanta comida de uma vez e sai-lhe um prato de esparguete com azeitona, tagliatelle com molho de tomate ou penne regado com um pacote de natas de culinária. Só.

Portanto, eles comem massa com massa, rapam o prato e vão à sua vidinha. Há quem se empanturre com tudo o que tem direito, é certo, mas também há quem fique regalado ali com uma dúzia de fiozinhos de esparguete.

Carne, peixe e outros ingredientes sofisticados é coisa para a volta seguinte à qual geralmente não chego porque se um primi piatti não custa menos de 10 euros, se me alambazo a brincadeira fica sem grandes esforços por uns 30 ou 40.

Nem sequer é que eu vá muito a restaurantes mas faz-me espécie, pronto.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Montras pirosas (4)

Mais uma amostra daquilo de que a mente (perturbada?) dos comerciantes italianos é capaz. Tudo na mesma loja de decoração, numa rua secundária de Verona.








Fotografias de Ricardo Lopes




Como vencer a falta de um carro*

  


Hoje de manhã foi assim: Encaixotámos, emalámos, fechámos com fita-cola e upa que lá fomos nós, as caixas e os sacos montados em cima da bicicleta rumo à casa nova.

E o contente que isto me deixou? Atravessei Florença inteira com um motociclo a pender naturalmente para o desequilíbrio, pessoas. Eu, que há um mês atrás não tinha bem a certeza de como funcionavam os pedais, derrapei nas curvas, apitei irritada aos turistas que não se desviavam do caminho, meti o pé no chão, tirei o pé do chão, contornei obstáculos e, ao mesmo tempo em que fazia isto tudo, equilibrei uma mala no ombro. Ufa!

Terminámos o feito os dois incrédulos na forma como tudo tinha decorrido com tal calma e tranquilidade. Nada de joelhos esmurrados, narizes partidos ou atropelamentos. Uma verdadeira operação mãos limpas.

Ver "Cuidado Japinhas, eu tenho uma bici"

*Expressão roubada do Nós Vencedores, o (excelente) programa da Sónia Morais Santos na Antena 1

quarta-feira, 23 de março de 2011

Adeus Sócrates, até nunca!

Fotografia de Ricardo Lopes


Podia decorrer aqui em análises profundas mas, há minutos, o jornalista João Miguel Tavares disse durante a emissão da TSF qualquer coisa como isto: “Entre uma melancia podre e outra por abrir, por muito má que seja, a segunda será com certeza uma melhor opção”*.

Assim de repente, é o melhor resumo do que penso.

*Não sei se foram exactamente estas as palavras, estou a ouvir a TSF em directo e não tenho como andar para trás.

Querida máquina de lavar e secar...

É com tristeza que me despeço de mais um membro do meu roupeiro. Era a favorita, a única camisola de manga curta com cara de festa que trouxe para terras italianas. Por alguma razão, quando te confiei esta relíquia tinha um tecido liso e sedoso. Por alguma razão, quando te escolhi o programa, te avisei que não podias lavar nem secar a mais de 30 graus.

Mas tu, cabra, teimas em destruir o meu armário como um serial killer profissional. Primeiro foram as quatro calças de ganga que transformas-te numa rodilha e deixaste inutilizadas durante mais de um mês (só as poderei voltar a vestir para a semana quando mudar de casa e um ferro baixar sobre a minha roupa), depois o casaco de malha que deixaste feito em fanicos, mais as meias e cuecas que comprei especialmente para Itália e tu encheste de borboto como se fossem panos velhos.

Houve ainda os tapetes novos do IKEA, os panos da loiça e a tolha de mesa que só não comeste por inteiro porque não devias gostar do tipo de tecido. E agora…e agora, a dois dias de te abandonar, deste o golpe mestre.

Quero que saibas que o pontapé que levaste hoje foi só uma pequena ameaça. Amanhã, dar-te-ei uma vigésima hipótese, vou entregar-te com amor e carinho alguns dos meus vestidos. Se te portas mal, com o pó que estou à senhoria, és capaz de encostar as botas por morte súbita.

Ser português é...

Acordar em Florença com um sol pela primeira vez suficiente para amornar as costas e só conseguir pensar que se calhar é hoje que o Governo cai. E que não tudo, mas pelo menos alguma coisa muda.

Poder almoçar numa esplanada com sotaque italiano e preferir o bife requentado do dia anterior com a sempre igual massa (às roscas, comprida, curva, sabe tudo ao mesmo) para poder ouvir as notícias da hora de almoço.

Ligar para casa e, antes de saber se pai e mãe estão bem, perguntar como vai o PEC e o que significa exactamente essa coisa do “PS não apresentar um projecto de resolução de apoio”.

Estar a quilómetros de distância e já ter desenhado mentalmente dezenas de possibilidades possíveis. Será que cai mesmo? E se cair, vamos para eleições? E se formos para eleições, temos dinheiro para campanhas? E se não formos, será que o Presidente da República vai criar um Governo de União Nacional? Será mesmo desta que o Sócrates larga o osso?

Preocupar-me. Porque apesar de todas as duras críticas que teço, apesar de não saber bem como vamos dar a volta a esta, apesar de achar que somos encostados, moles, negativos, Portugal é o meu país. E todos os apesar caiem por terra perante isso.

Faço parte daquele grupo de pessoas que o ama incondicionalmente, como a mãe acha o filho lindo mesmo que ele seja feio, use óculos lentes de garrafa e tenha aparelho nos dentes. E porque tenho esperança que mesmo pequenino, Portugal guarde um espacinho para mim. Correr mundo é ter a oportunidade de aprender, absorver, evoluir. Mas estou capaz de dizer que não haverá melhor lugar do que aquele a que podemos chamar nosso.

terça-feira, 22 de março de 2011

Laranjas sanguinárias

Fonte: Google Images
São a prova viva do slogan do Pessoa: Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Estávamos em Itália há três ou quatro dias quando descascámos o primeiro exemplar.

Ele, esquisitinho com a comida, teve logo a certeza que a única solução era deitá-las todas no lixo. Cheirou uma ou duas, provou um gomo ridiculamente minúsculo, e concluiu sem mais análises que estavam todas podres.

Eu, o monstro das bolachas de qualquer tipo de comida, estranhei a tonalidade e o sumo que parecia sangue a escorrer-me nas mãos mas tratando-se de alimento nunca sou céptica o suficiente para passar a fase da experimentação. Provei-as, tive a certeza que podres não estavam e que eventualmente até poderiam ter um paladar semelhante a algo parecido com laranja. Influenciada pela fita anterior, e com os sentidos comprometidos que laranjas vermelhas também me pareceu à partida uma incongruência de base, recorri ao amigo Google.

Havia vários tansos como nós espalhados pela blogosfera. Exactamente com as mesmas dúvidas. Ficámos a saber que eram laranjas tarocco, originárias da Sicília, e que deviam a tonalidade ao solo vulcânico onde eram cultivadas, sofrendo uma mutação na cor.

Ele, nhurro, continua a dizer que as laranjas não são bem laranjas e não lhe sabem assim tão bem. Seja como for, comemo-las com alegria e não há-de tardar muito para andarmos a brincar aos Dexters com os gomos de sumo vermelho.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Bosu ou como deixar uma leiga às portas da morte

Fonte: Google Images
Um ginásio a metade do preço é sempre um ginásio a metade do preço. Vai daí que num acto insano me decidi por um que fica a 7 km da minha casa, qualquer coisa como meia hora de bicicleta com subidas loucas à mistura. Escusado será dizer que chego lá com os bofes de fora, a pensar para os meus botões que se estivesse sozinha a ida e volta seria exercício quanto baste.

Pena que estas reflexões profundas só me ocorram no momento. Antes do acto, sou uma fortalhaça. Inscrevi-me nas aulas de step, pilatos, bosu e voleibol com a certeza que marcaria presença assídua. Cada duas 2 vezes por semana que a gordura acumulada assim o exige.

Comecei com o bosu, uma modalidade que me fez lembrar algo como andar aos saltos em cima da gema de um ovo estrelado. Um trampolim gelatinoso para o qual tive de subir dezenas de vezes ao ritmo de uma música demasiado mexida para as minhas capacidades.

Só aguentei a aula até ao fim porque fiquei de perfil para o espelho e sempre que o enfrentava recordava os motivos porque ali estava.  Mesmo assim, na hora a seguir achei que seria boa ideia relaxar no pilatos. Claro que a coisa é menos zen do que o que esperava e 15 minutos depois estava encostada à box a arrumar o colchão.

Cheguei a casa há meia hora mas considerei a hipótese desse milagre não acontecer, achei que morria pelo caminho, que o meu coração frágil ia parar ali tal era a velocidade em que o sentia na boca. Neste momento, sinto qualquer coisa que não sei explicar bem o que é. Ando ligeiramente de lado, é provável que tenha a anca deslocada, e ter forças para bater com os dedos no teclado está-me a parecer uma bênção do senhor.

Se passar desta noite, até sou menina para amanhã ir outra vez. Vamos ver.

Digam lá se os manequins italianos não são chiques?















Fotografias de Ricardo Lopes

domingo, 20 de março de 2011

Taras e manias

As minhas não são tão medonhas como a música do Marco Paulo mas suficientemente caricatas para o deixar boquiaberto.

Fica um pequeno role que não vos quero maçar: Tomo banho de chinelos, enfio lenços de assoar, elásticos do cabelo e outros objectos semelhantes nos lugares mais inesperados, tenho uma certa dificuldade para dobrar a coluna - pelo que sempre que deixo cair alguma coisa, preciso do detergente da máquina de lavar roupa ou de desligar a ficha do portátil peço o seu auxílio –, roubo as mantas – presas com meia-volta debaixo do corpo - durante a noite e leio TODOS os meus textos em voz alta.

Há justificação para tudo. Tenho nojo do polibã porque não consigo esquecer o que os meus olhos viram quando o encararam pela primeira vez, não tenho tempo de procurar o sítio certo para arrumar as coisas logo qualquer buraco serve (viva a originalidade!), não sou contemplada com massagens diárias vendo-me obrigada a poupar as costas, o frio durante a noite é uma guerra entre a força e a astúcia da qual tenho saído vencedora (ah ah ah!). Quanto aos textos? É uma disfunção mesmo, só consigo detectar erros de construção frásica se os ouvir. Sempre que termino um trabalho acontece cá em casa algo semelhante a um discurso político com dicção errada que troco-me toda com os “r”.

A expressão dele, coitado, é sempre a mesma. Arregala-me os olhos, incrédulo, e faz a inevitável pergunta: “É mesmo verdade que acabaste de fazer/dizer isso?”

É sim senhora. Mas também não te podes queixar de publicidade enganosa, ninguém te disse que seria fácil viver comigo.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Um grave mal se apoderou de mim

Acho que preciso de ajuda. Sempre gostei de despachar as coisas a eito, de não deixar pontas soltas, de literalmente não guardar para amanhã o que posso fazer hoje. Estabelecia horários para tudo: comer, trabalhar, ver televisão. Sim, que isto de ser freelancer tem que se lhe diga. É fácil deixarmo-nos levar pela inércia e passar um dia inteiro no sofá a ver só mais um episódio daquela série com o pijama vestido e um ar pouco sociável.

Mas de há uma semana para cá, sou a cigarra em pessoa. Pior, sacrifico-me mantendo os hábitos da formiga e deixo-me ficar a vegetar, só mais uma hora, depois outra, até passar o dia todo. Levanto-me às 8 da manhã, visto-me, ligo o computador, e depois? Não acontece metade do que devia acontecer. Disperso-me a ler jornais e coisas que não interessam a ninguém. Falo com o conhecido com quem nunca meteria conversa não fosse o caso de não me apetecer fazer nada, espero que uma ideia luminosa desça até mim. Depois invento que tenho de ir fazer o almoço e lavar a loiça e e e, até ser hora de me ir deitar.

Pois bem, fica o aviso oficial da formiga Sofia para a cigarra Sofia: “Tens exactamente até amanhã às 8 horas para te pores na alheta. Caso insistas em armar-te em parva, terei de correr contigo com métodos pouco católicos. A escolha é tua. Sim, porque o que é que pensas? Aqui trabalha-se o ano inteiro, não posso ficar de papo para o ar como tu, ó gorda! Se não penso, se não escrevo, não como. Por isso, vamos lá a ver se esta escassez de ideias e energia se transforma em solo fértil. Bem!

quinta-feira, 17 de março de 2011

Parabéns, Itália!

Faz hoje 150 anos que Itália se aliou à Prússia, obrigou a retirada da Áustria e anexou Veneza ao seu território (só ficou a faltar Roma para que se completasse a unificação em 1870). Faz hoje 150 anos que, depois de mais de duas décadas de luta, os italianos conseguiram unificar um território tripartido entre franceses, austríacos e piemonteses.

As pessoas reconhecem o feito. Sentem-se orgulhosas, agitam bandeiras e penduram-nas nas janelas. Saem à rua. Num retrato que talvez só tenha visto em Portugal durante o Euro 2004. Apesar da crise, apesar dos escândalos de Berlusconi, apesar de todas as queixas, ontem à noite os italianos mostraram estar contentes por ter um país só seu. A bandeira de Itália foi projectada nas fachadas dos principais monumentos de Florença. Do carrinho de bebé à trela do cão, da drogaria de bairro à montra da Swarovski, tudo se vestiu de verde, branco e vermelho.

E foi bonito de se ver. Da avó ao neto, do gótico ao betinho, a causa era partilhada. As pessoas, muitas, andavam pelas ruas sem destino, deslocavam-se com o único intuito de mostrar o orgulho que tinham em ser italianos. Fiquei a pensar se não faltava disto a Portugal. Direito à indignação, à manifestação, sim senhora. Mas a vontade de enaltecer o que de melhor se tem, também acalenta.










Fotografias de Ricardo Lopes