domingo, 27 de fevereiro de 2011

Cuidado japinhas*, eu tenho uma "bici"

Alertaram-me que em Florença toda a gente anda de bicicleta, para me preparar porque também teria de arranjar uma. Eu, que nunca fui dada ao desporto em geral e ao ciclismo em particular, abanava a cabeça e dizia que sim com pouca fé. Até perceber que a bici se tornaria o meu Toyota. Que a poderia levar para fazer compras, ir ao cinema ou chegar ao trabalho sem ameaçar a estrutura óssea do meu nariz.

Nas ruas, há mais bicicletas do que carros. Quase todas com um cestinho, para transportar a mala e os sacos, ou um lugar extra de plástico, donde os bebés e crianças observam a vida da cidade, sentem o vento na cara e se movimentam sem esforçar as pernocas roliças. Qual flâneur.

“Já sabes como vais arranjar a tua?”, perguntou-me uma amiga quando finalmente me mentalizei que poderia ser boa ideia tentar equilibrar-me em cima de duas rodas. “Vou a uma loja que as venda em segunda mão”, respondi. “Mas estás maluca? Aqui toda a gente rouba as suas bicicletas. Junta-se um grupo na Piazza Santa Croce e com uma tesoura de cortar ferros arranca-se os cadeados das que estão estacionadas. Depois, só tens de pintá-la de uma cor diferente para o dono não a reconhecer. Logo na primeira semana aqui, fui parar à esquadra mas a polícia acabou por me dar a bicicleta que tinha escolhido”.

Mariquinhas que só eu, a conjugação “roubar” com “polícia” não me deixou equacionar a hipótese mais de cinco minutos. Acabei por não fazer muito melhor. Paguei 45 euros a um homem que desconfio que as rouba durante a noite, pinta-as e vende-as numa garagem sem licença. Pelo menos foi ele, não eu. Nada de escrúpulos, medo puro.

Quando vi a minha bicicleta pela primeira vez, olhei-a com desconfiança. Vi se chegava com os pés ao chão, se os travões funcionavam e se a buzina tocava alto o suficiente para não matar ninguém. Comprei-lhe dois cadeados não fosse passar a gostar dela e me dar jeito que não a roubassem.

Até agora, pratico condução de alto risco. A minha roda da frente já ficou a milímetros do salto do sapato caro de uma italiana, já fiz uma travagem que pôs os monhés que vendiam na rua com as mãos na cabeça e ia sendo atropelada por um taxista.

Acho que depois disto, só posso melhorar. Agora que me apaixonei pela minha bicicleta verde-garrafa, já não quero ouvir falar em andar a pé. Gosto de ser igual a toda a gente, de trazer os ovos e o peixe no meu cestinho, de prender o cadeado no estacionamento, de apitar aos turistas, tal como fazem os florentinos aos que não se desviam nas ruas da sua cidade. Agora que tenho uma bici, sinto que a cidade também é minha.

Diz quem já conduz esta coisa há mais tempo que o maior desafio é não passar a ferro os japoneses. Sempre distraídos, sempre a querer tirar uma fotografia com os braços no ar junto aos monumentos mais emblemáticos.

Cuidado japinhas, eu tenho uma bicicleta que domino muito mal. Desculpem lá qualquer coisinha mas, se acontecer, não foi com intenção.

*Palavra roubada do português do Brasil

1 comentário:

  1. oh que giro.....a minha conversa das bicis aqui transcrita!!! eu sabia que te ias render! beijinhos
    miana

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