quarta-feira, 13 de julho de 2011

Muitas desculpas e até já

É uma vergonha, vai para lá de um mês que não venho a este blogue. Lembro-me dele todos os dias mas o tempo não estica mesmo. Pudesse eu ser talhada em duas e a minha vidinha seria muito mais fácil.

Só para vos dar um lamiré, nas últimas cinco semanas corri Itália de Norte a Sul com um grupo tão fofinho mas tão fofinho que quase esperneei quando se foram embora, fui assaltada por dois homens de mota em Nápoles – qual James Bond – e tornei-me uma sem-terra sem direito a expatriação. Estive no casório do meu primo em Portugal, rocei a loucura com o curso de vídeo (do qual não percebia nada e agora até pareço uma pró). Respirar. Continuei a trabalhar, terminei o estágio com direito a relatório final, quase que acabei com a tese de mestrado que mais parece a obra de Santa Engrácia e fui até à Sardenha pôr o pernil de molho que seis anos de namoro bem passados merecem ser comemorados.

Ufa, cansados? Imaginem eu… Espero voltar em breve para contar tudo timtim por timtim. Uma história de cada vez, prometo.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Namorado italiano?

Vim para Itália com um homem que não sabia o que era um bolero, não distinguia o caqui do verde azeitona ou umas leggings de umas calças de algodão. Ao fim de quatro meses, não é que dou por mim com um entendido em moda?

Passeávamos pelas ruas de Florença, eu sugava o conteúdo das montras, ele reparava em pormenores para fotografar quando, para meu espanto, se detém numa loja por mais de um minuto: "Sabes uma coisa? A Guess é uma marca badalhoca", disse enquanto franzia o nariz e apontava para os berlicoques dourados das malas.

Então está bem, se tu dizes quem sou eu para contradizer.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Puzzare

É como se diz cheirar em italiano. Vá-se lá saber porquê, sempre que ouço a palavra, desmancho-me a rir. Io puzzo, tu puzzi, lui puzza...

O meu dia começou assim

Fui ao bar do meu bairro beber um café e comer um croissant de chocolate. Qual malabarista, equilibrei a revista do La Reppublica, o pires do café e o prato com o bolo até à mesa da esplanada solarenga.

Mal me sentei, um pássaro bebé começou a rondar os meus pertences. Enquanto o enxotava, mandei também um safanão no café que banhou mesa e cadeiras. Fui a correr buscar guardanapos para fazer uma “operação mãos limpas” e, quando voltei, tinha o cabrão do pássaro a lambuzar-se de massa folhada e creme de chocolate.

Conclusão: Em Itália, até os pássaros são mafiosos.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Declaração de amor matinal

Hoje saí de casa cedo para ir trabalhar, deixei-o a dormir tranquilamente, indiferente à quantidade de pequenas coisas que havia para fazer lá por casa.

A meio da manhã, resolvi demonstrar-lhe o quanto gosto dele e enviei-lhe este email. Agora estou aqui em pulgas para chegar a casa e ver a capacidade que o amor tem para transformar tudo. Vá lá, não me desiludas.

“Só para saberes que gosto muito, muito de ti! Os teus olhinhos em bico, o teu cabelo, os teus beijinhos... Quando fazes a cama, lavas a loiça e varres o chão, aí, tenho a certeza que és o tal. Queres ser o tal sem margem para dúvidas? Um grande beijinho”

segunda-feira, 23 de maio de 2011

A inolvidável experiência de uma ida à discoteca

É mais ou menos o mesmo que ir à antiga Feira Popular. O Dj não diz “mais uma volta mais uma viagem” mas faz publicidade ao restaurante do Sr. Peppe com menus a 10 euros e saladas do melhor que há, fala da exposição de arte que vai inaugurar na próxima semana e chega a comentar o rabo das bailarinas, bem jeitoso por sinal, que se abanam com um vestido branco transparente em duas plataformas elevadas.

Às vezes também saca dos laralálá, dos tum tum tum ou papapa para acompanhar o ritmo da música e combater o seu total desconhecimento da letra. Eu que venho de uma terra em que o volume da música nas discotecas quase que faz as minhas pernas moverem-se sozinhas não me consigo habituar a isto. Música baixa com tanto mas tanto parlapiê à mistura que apetece chegar ao pé do DJ e dizer: “Cala-te já por amor da santinha que eu vim aqui para dançar e já me dói a cabeça de te ouvir. Já agora, se não te importares, eleva o volume de modo a que não consiga ouvir como se estivesse numa esplanada os meus compinchas de bailarico”.

Posto isto, devo ainda referir a paixão dos italianos por ancas. Pode haver um corredor de cinco metros de largura para os senhores espaçosos passarem mas eles escolhem sempre a opção elevar as mãos à Mamma Mia e agarrar, num gesto firme e decidido, as ancas das meninas ao mesmo tempo que empurram todo o seu corpo ligeiramente para o lado e se roçam para abrir caminho.

As discotecas são giras, sim senhora. De destacar o Central Park, aqui em Florença, com três pistas – numa das quais não pus os pezinhos porque era só para VIPS – ao ar livre e música razoável tendo em conta que estamos em Itália e eles ouvem esta pérola que abaixo vos apresento.

P.s - Prestem especial atenção a partir do minuto 1.53

domingo, 22 de maio de 2011

Fui ao paraíso e voltei

O fim-de-semana passado estive aqui. Água límpida e quente, vinhas, casas catitas e uma vista de cortar a respiração. Deveria ser obrigatório visitar as Cinque Terre uma vez na vida. Apontem na agenda: Monterrosso, Vernazza, Riomaggiore, Corniglia e Manarola.

O sítio onde até no cemitério apetece viver...
Ao pé deste cemitério, não me importava de ter uma casa.





quarta-feira, 11 de maio de 2011

Um de nós vai morrer, resta saber se eu ou o berbequim

Há dias que é assim. O berbequim, a rebarbadora, os martelos - e sabe Deus que mais ferramentas - começam a funcionar impreterivelmente às oito da manhã. Como o meu tecto é de madeira sempre que os senhores malvados tentam furar o chão a sensação que tenho é que me estão a abrir a cabeça.

Não consigo falar ao telemóvel, concentrar-me e às vezes tenho de gritar para que me oiçam dentro de casa. Tenho de lavar a loiça duas vezes porque os meus móveis estão cheios de pó e não são raras as ocasiões em que me caiem pedras e areias oriundas do tecto em cima da tola.

Para completar o ramalhete, o senhor obreiro canta e muito e mal e em italiano. Ora escada acima, ora escada abaixo, ora escada acima, ora escada abaixo. E eu a desejar que ele caia, parta um dentinho que é para a próxima se lembrar que às oito da matina não se dá música aos vizinhos.

Hoje acordei decidida a ir lá cima. Raios me partam, aqueles senhores pintalgados de pó e tinta até podem ter autorização para começar a tal hora da madrugada mas tinha de ser logo à bruta? Logo com a broca mais barulhenta da caixa?

Têm razão senhores, há muito tempo que a minha vida decorria de forma mais ou menos tranquila. Passam trinta minutos das nove da manhã e a sensação que tenho é que o meu cérebro está a funcionar há 12 horas sem parar.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Como um homem e um creme podem fazer faísca

Viemos os dois com um escaldão de Barcelona. Ah, bora lá só ali à praia apanhar um solzinho que sabe tão bem na moleira, daí a estarmos esparramados ao sol a bater a soneca foram 5 segundos. Daí a ele tirar a camisola porque tinha calor, outros cinco. Resultado: vermelhinhos que nem tomates que é para a próxima termos juízo.

Hoje, enquanto andava de tronco nu em casa com o peito a fazer lembrar entrecosto cru de tão vermelho e magro, perguntei-lhe: “Já meteste creme aí? Estás tão chamuscado que vais perder pele de certeza…” "Já, pus ontem depois do banho”.

Incrédula com tal desenvoltura, voltei a questionar: “De qual? Do Dove que comprei no outro dia no supermercado?” “Não, daquele de pele de pêssego cor-de-rosa que já tinhas há muito tempo, assim acaba-se com aquela embalagem”.

Continuava sem perceber: “Hum, mas não está aí mais nenhum creme para o corpo, mostra-me lá”. Confiante, levantou-se da mesa meio zangado - com todas as certezas do mundo - e esfregou-me a embalagem cor-de-rosa na cara: “Foi este, vês? Ardeu-me foi muito a pôr.”

Pois claro que ardeu. Não me lembro de um dia algum especialista ter dito que desmaquilhante era bom para hidratar escaldões.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

É que não me faltava mais nada...

Há três meses atrás falava castelhano fluentemente mas isso parece que foi há muito, muito, tempo. Agora confundo tudo. Não sei já o que é português, italiano ou espanhol e a minha cabeça está feita num molho de brócolos.

Estou em Barcelona e não é que toda a gente me pergunta se sou italiana? Pudera, digo os “c” como se fossem “ch”, “va benne” em vez de “vale” e prefiro frequentemente o “due” ao “dos”. Boa Sofia, é esse o caminho. Desaprende uma língua que é falada por todo o mundo para te tornares fluente nesse nicho importantíssimo que é o italiano, requisito obrigatório exigido pelo mais humilde empregador.

Eu vou atinar, olarilas se vou. Começa já amanhã a revisão do presente dos verbos em castelhano e italiano. Vai ser o exercício de “descubra as diferenças” mais fofinho da minha vida.

Ah, para completar o quadro, hoje dei por mim sem saber conjugar, em português, o futuro do verbo compreender e a escrever “vere” ao mesmo tempo que pensava: “Isto está aqui qualquer coisa a mais, só não sei o quê...”

terça-feira, 3 de maio de 2011

Feios, porcos e maus

Este texto vai parecer ressabiado mas não é. Estou há três meses em Itália, desde a primeira semana que penso o mesmo, só não o disse alto porque podia mudar de ideias e já não haver volta a dar.

Os italianos desiludiram-me, esperava um povo à medida dos espanhóis. Simpático, aberto, acolhedor, e saiu-me uma argamassa que nem os senhores da construção civil quereriam usar.

Têm má cara, respondem torto à pergunta mais inocente, passam à frente nas filas e parecem sempre zangados com a vida (se trabalharem num estabelecimento público, a dose é a quadruplicar). Dão encontrões e cargas de ombro na rua como se nada fosse (sem pedir perdão ou sequer olhar para o alvo que acabaram de abater), são troca-tintas e passam a perna sempre que podem. Ah, já me esquecia, os senhores fazem xixi contra as paredes, repito, os senhores, não o bêbado ou o pedinte.

O que é feito do dolce fare niente, descontraído e encantador que tanto me venderam? Começo a ressacar por pessoas simpáticas e carinhosas. Só para verem, quando o senhor do café onde vou todos os dias me sorri e diz bom dia, sinto-me a Monica Belluci aqui do bairro.

Estou a generalizar, claro. Assim de repente, quase que me consigo lembrar de umas dez alminhas simpáticas. Dizem que é coisa do Norte, que para o Sul o sol volta a brilhar nestes seres e as pessoas são dotadas de uma simpatia nunca antes vista. Vou lá em Junho, espero ver para depois crer.

Até lá, só me vem à cabeça dizer isto: os italianos são "patos chocos" (sei que deviam ser patas), pouco cívicos e donos de uma antipatia que nunca reconheci noutro povo. Agora vou-me deitar, não vá algum apanhar-me na curva e adensar a canelada que a senhora que ia hoje ao meu lado no autocarro me deu enquanto, desengonçada, tentava sair levando tudo atrás.

terça-feira, 26 de abril de 2011

O segredo dos sinais de trânsito

São originais, provocadores e transmitem uma mensagem. Uma manifestação contra regras redutoras que o artista plástico Clet Abraham quer espalhar pela Europa. Leiam mais pormenores na revista Sábado que saiu na passada quinta-feira.

Está desvendado o mistério.









Fotografias de Ricardo Lopes

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Queridos Braga e Benfica,

Está a chover em Florença, eu saí de casa a contra gosto e estou num café um  bocado para o feio com americanas histéricas a gritar-me aos ouvidos, o único com wireless e uma tomada eléctrica que nos aceitou com o computador às costas. Estou virada contra uma parede, como se estivesse de castigo, a ouvir coisas como "o Benfica treme mas não cai" e com o coração a bater mais depressa do que a conta para uma sportinguista.

Os meus pais, tios e sogros chegam amanhã e quero recebê-los como deve ser, vai daí que quando chegar a casa tenho à minha espera dois cheesecakes e duas quiches. Se vocês perderem, o meu humor não permitirá que os meus dotes culinários brilhem e sentir-se-ão culpados para o resto da vida.

Um bocadinho de respeito é o que vos peço. Eu esforcei-me, agora é a vossa vez. Portugal já me dá desgostos suficientes portanto vejam lá se recuperam a compostura.

Obrigada.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Terão os jornalistas portugueses de se tornar papagaios para garantirem o emprego?

Isto não tem nada a ver com Itália, é mesmo com o podre dos podres do meu país e da minha profissão. Estou há dez minutos de boca aberta, em choque, incrédula.

A jornalista Sofia Branco foi demitida de editora da Lusa por se ter recusado a escrever uma frase do primeiro-ministro, ditada ao telefone pelo seu assessor, que ainda não tinha sido dita. Acho que sim, que faz todo o sentido Sócrates ainda ter hipóteses de ganhar as próximas eleições.

Às vezes penso que quem o defende só pode viver num mundo diferente do meu, não ler as mesmas notícias, não recordar as mesmas promessas. Enfim, não há mais nada a dizer.

Vejam pormenores aqui, no blogue do jornalista António Granado.

Jesus Cristo chegou à minha casa

Isto que vêem aqui ao lado é uma espécie de santuário ao qual é dedicado diariamente o devido culto. Basta-me respirar para ouvir logo a reprimenda: “Tem cuidado com a maqueta!” Mas se ando, levanto um braço ou escorrego no ínfimo espaço no qual me é possível deslocar, sinto-lhe o coração palpitante.
Abre muito os olhos e fica estático, à espera do pior.

Eu, que no início do namoro cheguei a ter diálogos com as estúpidas das maquetas porque o meu namorado lhes tinha mais estima do que a mim, sorrio triunfante como quem diz: “Toma lá que ainda não foi desta mas é melhor que a tires daí porque o dia de amanhã, ninguém sabe.

Esta maqueta é o Jesus Cristo cá de casa, só ainda não nos ajoelhámos os dois a prestar-lhe homenagem porque não calhou. Açambarcou-me os frascos da maionese e do doce e levou igualmente a boa disposição do meu namorado.

O pior de tudo? Ele agora quer arrumá-la perto da caixa onde guardo os meus sapatos, e já me avisou: “Depois não se pode é ir ali mexer!”. Ah, ah, ah até a casa vai abaixo. Vai tudo muito bem, amor, eu respeito a tua fé, mas não te metas com a minha.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Procuram-se soluções para exterminar melgas

Mal o sol raiou foi vê-las a chegar. Primeiro eram duas ou três, agora surgem em grupos organizados, prontas para o massacre. São espertas, as gajas. Comem pouco para não engordar, são pequeninas e por isso difíceis de apanhar.

Já não sei que faça à vida. A minha linda casa é uma espécie de estufa quente, se não abro a janela morro com o bafo de calor. Se a deixo aberta, entra a aragem e todo o jardim zoológico de insectos de Florença.

Todos os dias descubro três ou quatro picadas novas. Estou quase a terminar a pomada que a minha mãe me mandou para a ocasião e não tenho bem a certeza se sairei daqui com sangue suficiente para próximas análises.

Vou tentar o truque do manjericão, comprar insecticidas eléctricos e um bom repelente, mas há um grilo falante a dizer-me que os resultados serão quase nulos. Conhecem alguma mezinha milagrosa? Please

Bem, agora vou só ali coçar-me mais um bocadinho. Já volto.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Italiano é bicho mau quando o assunto é futebol

Ontem à tarde saímos para ir passear ao jardim. Quando estacionámos a bicicleta, perto do estádio da Fiorentina, antevi pelo colorido violeta das ruas apinhadas de gente que o derby com o A.C Milan estava para começar.

“Vês, cortaram a estrada só para passarmos. Temos bilhetes VIP”, disse-me ao mesmo tempo que me mostrou dois papelinhos amarelos com os nossos nomes. Comecei aos pulos no meio da rua. Há tempos que andava a querer ir ao estádio, apreciar os tifosi, ouvir-lhes os cânticos, ver como comemoravam os jogos e confirmar que o futebol tem mesmo uma linguagem universal. Isso tudo embrulhado numa surpresa, soube ainda melhor.

À entrada fiquei logo a saber que os seguranças daqui são uns mauzões, proíbem máquinas fotográficas, não vá as ditas transformarem-se em perigosas armas, mas não revistam malas e perguntam aos adeptos: “Tem very-lights?” Claro que todos lhes respondem: “Tenho sim senhora, tome lá, fique com eles para atirar foguetes esta noite”.

O nosso lugar era numa bancada neutra mas estes amigos não brincam com coisas sérias. O A.C Milan marcou no início da primeira parte e houve um desgraçado que teve o azar de comemorar com afinco o golo do seu clube. Sabem o que são dezenas de pessoas levantadas numa bancada a mandar alguém sair dali? Pois, foi mais ou menos isso. Vi o terror nos olhos azuis do coitado (e corajoso porque se manteve na mesma cadeira até ao final).

Pela raiva com que viveram a coisa, devia ter ali ao meu lado o adepto 1,2,3 e 4 da Fiorentina. Eu cá agradeci ter comprado um cachecol violeta no início do jogo e agarrei-me a ele como quem dizia: Por favor não me cortem às postas por me ter rido de vocês, por favor, sou uma das vossas, não vêem, não vêem?

A maioria dos adeptos eram fiorentinos e eu caso a coisa desse para o torto já tinha o discurso preparado: “Sou de Portugal, o país do Rui Costa.” Aí era vê-los de joelhos aos nossos pés. A experiência serviu também para aprender algum vocabulário útil para quando algum taxista voltar a tentar passar-me a ferro. Fiquei a saber que sembra napoli [parece Nápoles] e bastardi é insulto grave por aqui e que os italianos desejam com alguma frequência que os seus jogadores rompano os outros todos, que deve ser o mesmo que gritar: “Deixa-o em fanicos, caraças!”.

Torci pelos Viola com afinco, que tenho facilidade em vestir a camisola dos sítios de que gosto. A dez minutos do final - com a Fiorentina a perder 2-0 - já só pedia um golo para poder ver o casal de velhotes (por volta dos 80 anos) dos binóculos a comemorar. O Vargas fez-me a vontade e digo-vos ver os dois senhores de binóculos pendurados ao pescoço abraçados foi coisa linda de se apreciar. 

Ah, e futebol é realmente igual em todo o lado. Os mesmos cânticos, as mesmas expressões, a mesma revolta contra o árbitro, a mesma magia.

Mudou a língua e os decibéis, os italianos têm uma goela um bocadinho melhor do que a nossa.

   
  



                                                

sábado, 9 de abril de 2011

Ah bom, agora mais descansada

Ele convenceu-me a aguardar mais uma semana até mudar a cor do cabelo porque, diz, até me fica bem. Íamos no autocarro quando perguntei: “Está com o mesmo tom daquela senhora ali à frente, não é?”

“Não, nem pensar! Está da cor do aço corten, aquele material que eu gosto muito de ver nos edifícios”.

 É o que dá confiar assuntos de beleza feminina a um arquitecto.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O italiano português

O Marco é italiano mas parece um português nascido e criado em Trás-os-Montes. Fala “achim”, muito e bem. Parece uma grafonola, não há nada que não saiba dizer. Usa expressões como “lá no caraças mais velho”, “aquele tipo”, “onde é que andas pá?”, “o que é que tens miúda” e outras que não vale a pena citar aqui. Prefere a rádio Cidade a qualquer uma italiana.

Partilhou casa um ano com uma portuguesa (que descobri entretanto ser amiga de uma colega de faculdade só para confirmar a teoria de que o mundo é um penico) e diz que foi o suficiente.

O Marco é o tipo que todos os portugueses que vivem em Florença conhecem, um elo de ligação. Defendeu a bandeira Lusa nas tasquinhas Erasmus e teve de dizer a um professor, durante uma prova oral na faculdade, que não estava a conseguir falar bem italiano porque tinha vivido muitos anos no estrangeiro.

“Só me dou com tugas, quando vou para a minha terra [Nápoles] falo o dialecto, por isso, vou deixar de saber expressar-me na minha própria língua”.

Se vierem a Florença, já sabem, não podem deixar de o conhecer. É um personagem. Dos bons.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Socoooooooorro, o meu cabelo está cor de laranja

Da última vez que fui ao cabeleireiro, decidi que queria deixar de ser loira. O meu cabelo de tonalidade clara tornou-se castanho chocolate, uma cor bonita e da moda sim senhora mas que nem por isso ficou a condizer comigo.

Com as raízes a precisar de retoques há mais de um mês, decidi que hoje era um dia gracioso para mudar de visual e transformar a minha cabeça em algo que não fosse nem o amarelo, que tinha antes, nem o castanho-escuro, a aquisição recente.

Escolhi um salão perto de minha casa, usava bons produtos e tinha preços aceitáveis, entrei e apontei para a cor que queria entre as várias disponíveis no catálogo: um castanho com reflexos acobreados. Sublinhei que, provavelmente, aquela cor não iria ficar assim no meu cabelo e que, por isso, caberia à senhora escolher o tom indicado para que tudo corresse pelo melhor. “Eu quero esta, agora você é que tem de me dizer qual a ideal para o meu cabelo ficar exactamente assim”, repeti já a antever o pior.

Confiante, disse-me para não me preocupar, que o tom que escolhi era mesmo o indicado, “lindo, cheio de vida e reflexos”. Como sou crente no profissionalismo alheio, não contestei. Já com a tinta no cabelo e um tom alaranjado a querer escapar, temi que uma catástrofe pudesse estar para acontecer, mesmo assim, resolvi dar o benefício da dúvida e fiquei calada.

Quando me olhei ao espelho, depois de aquele estafermo me ter esfregado a cabeça como se em vez de mãos tivesse uma escova palha-de-aço, só não chorei por vergonha. A minha raiz estava da cor das cenouras que tenho no frigorífico, não podia ser eu a pessoa ali reflectida! Do meio para baixo, a coisa melhorava, mas isso é um pormenor que até agora não aquietou o meu desespero.

Sábado já tenho marcação num cabeleireiro como deve de ser (pelo menos assim o espero). Até lá, vou tentar olhar para mim o menos possível e pedir ao santinho que se dedica a este tipo de causas para fazer os impossíveis. Não sou dada a subornos mas, desta vez, abro uma excepção.

Mimos ao pequeno-almoço

Quase todos os dias, ele sai primeiro do que eu e deixa-me a mesa posta. Quando olho para ela, penso no quanto seria impossível para mim, sempre atrasada e com sono, ter disponibilidade mental para lhe deixar a papinha feita enquanto engulo uma taça de cereais ou trituro uma maçã.

Derreto-me.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A partilha das tarefas diárias

não está fácil cá em casa.

Ele diz que sim a tudo o que lhe peço, vai daí que não me posso queixar muito, mas é uma questão de velocidade. Enquanto eu faço a comida, ponho a mesa, lavo a loiça toda do jantar e varro a cozinha, ele rapa os pratos e dá "jeitinhos" invisíveis não percebo muito bem ao quê.

Tento não me enervar que o rapaz não faz por mal e até tem boa vontade. E lá continuo eu, qual sopeira: ponho a panela ao lume, componho a mesa, descasco batatas, tiro a panela do lume, lavo pratos, agarro-me à vassoura e, no final, acabo sempre a refilar.

"Mas com o que é que estiveste entretido enquanto eu fiz isto tudo?" A resposta é sempre a mesma: "Olha eu também não estou parado de certeza!" E, nesse preciso momento, começa a andar de um lado para o outro nos cinco metros que separam as duas paredes laterais da nossa casa.

Tenho de me rir porque olhar para ele é o mesmo que estar a olhar para uma barata tonta desnorteada, tudo para se mostrar ocupado.

Cheesecake time


Há quem goste de ir às compras quando está com a neura, eu atiro-me aos tachos que é uma alegria. A receita é da minha amiga Soraya e, depois de ter percorrido três vezes os mesmos corredores do supermercado para encontrar folhas de gelatina e leite condensado, acho que nem me saí mal.

A prova vai ser feita logo à noite, no Jantar da Cartada Tuga (inventei o nome agora), isto se me conseguir conter e não me atirar ao frigorífico como o gato a bofe. Já lá espetei o dedo e sabe bem como tudo. Estou a conter-me. Faltam exactamente 2 horas e 55 minutos.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sporting no Vaticano

Podemos não ganhar nada, empatar já depois do minuto 90 e ter candidatos a vice-presidentes um pouco loucos, mas a classe ninguém nos tira e isso até as altas patentes da Igreja Católica o reconhecem.

Vejam só a relíquia que encontrei numa das colecções privadas do Vaticano.

Comboio errado, destino errado, bilhete errado

Fotografia de Ricardo Lopes
Esta história é real, vocês vão achar que é ficção, que é azar a mais para um só corpinho (e pequeno ainda por cima!), mas é verdade e tem testemunhas.

Este fim-de-semana recebi a primeira das muitas remessas de amigos que irão pisar solo italiano. E o bem que soube? Conversa, risota, cusquices, palhaçada. Tudo natural, sem contexto ou reflexão antes de abrir a boca. Podemos dar a volta ao mundo mas as nossas pessoas serão sempre as nossas pessoas e o resto é história. Bem, mas não é disto que vos venho falar que quanto mais a minha veia lamechas estiver longe deste blogue, melhor para a sua saudinha.

Sábado ao final da tarde, acabados de ver Roma, faltava ainda duas horas para o comboio que nos levaria até Florença partir. Abancámos num café na estação de comboios Termini e tivemos tempo para fazer de tudo um pouco. Ver lojas, consultar o email e o Facebook, analisar todas as fotos da viagem, beber café… A cada cinco minutos suspirávamos pelo banquinho que nos ia aliviar a dor de pernas depois de dois dias a andar.

Quando finalmente entrámos no comboio, malcheiroso ainda por cima, armámo-nos em rebeldes e refastelámo-nos na primeira classe, cientes que não ia levar 10 minutos a levantarmos o rabo dos assentos. E não levou mesmo. Tinha a corneta acabado de apitar quando nos apercebemos que Florença não era uma feliz contemplada no rol de cidades para onde a maquineta iria.

Tudo o que aconteceu desde aí, ficará para sempre na minha memória. Entre o pânico, as gargalhadas de nervosismo, o andar para trás e para a frente no corredor a suplicar por uma alminha que nos iluminasse, ficámos a saber que o nosso comboio para Florença tinha saído, há cerca de três minutos, não da estação de Termini mas de outra (que agora não me lembro o nome), em Roma.

Pronto, estava tudo perdido. O dinheiro dos bilhetes, das dormidas, o banquinho onde já tínhamos planeado o sono dos justos. Tudo porque não nos dignámos a olhar para a folhinha A4 e confirmar se estávamos no sítio certo.

A única esperança foi que o Intercidades para o qual tínhamos bilhetes estivesse atrasado, como por sorte o comboio onde estávamos ia parar na tal estação de Roma talvez ainda conseguíssemos. E assim foi. Mesmo já com dez minutos de atraso, encontrámos forças ainda não sei onde e corremos como se não houvesse amanhã.

Galgámos degraus, subimos escadas rolantes, procurámos o nome Florença em dois binários errados até que ouvimos uma voz misturada com o som da corneta: “Bora pessoal, o comboio atrasou, é aqui!” Um dos rapazes tinha-se agarrado à porta para ela não fechar e as meninas, que entretanto tinham pedido encarecidamente às suas pernas para não deixarem de andar, lá entraram uma a uma.

Uma alegria, uma festarola. “Ai que foi o nosso Euromilhões, ai que sorte que tivemos, ai que nem acredito que estamos cá dentro, ai, ai, ai, ai… ai que os nossos lugares estão todos ocupados por pessoas”. Pessoas que cheiravam a chulé, vinho, suor. Pessoas que não se lavavam há dias. Ganhámos coragem e começámos o diálogo: “Olá, pode ver se por acaso não está no lugar errado?”

Não, não estavam. Tinham no seu bilhete exactamente os mesmos números que nós. Quase que desfalecemos, era informação a mais para um só dia. Revoltados com a incompetência dos italianos no geral e das máquinas da Trenitalia em particular, lá fomos indignados chamar o senhor pica (que não era poliglota como os portugueses, só falava Italiano).

Porca maiala dizia ele sem perceber como tinham sido emitidos dois bilhetes para o mesmo banco. Até que descobriu a pólvora: “Então mas os vossos bilhetes são para dia 2 de Fevereiro, há exactamente dois meses atrás, não podem estar aqui ou terão de pagar um novo”. Vimos os olhos a brilhar de todas as pessoas na cabine com quem tínhamos armado escarcel mas ninguém teve forças sequer para ficar incomodado.

Passada a fase da negação, em que dissemos ao pica que não podia ser, que era impossível, que tínhamos confirmado tudo por tintim por tintim, passámos à da vitimização. “Por favor, não nos faça pagar 45 euros por cada bilhete, nós somos estudantes, nunca usámos o bilhete em Fevereiro, por isso, que mal faz deixar-nos viajar em Abril?”

Ele, de porte rígido, gélido e inflexível, nunca dos respondeu até dizer um tímido: “Venham comigo!” Pronto, estamos feitos, é agora, vamos ficar numa terra onde Judas perdeu as botas e dormir na rua ao relento e, quem sabe, morrer congelados, pensámos. Mas não. O senhor pica que era italiano mas nem parecia tal era a simpatia, mandou-nos a todos para dentro de um vagão vazio que cheirava bem e disse para nos deixarmos estar ali.

E assim fomos a viagem inteira. Caladinhos que nem ratos, a perguntar vezes sem conta uns aos outros se aquilo nos tinha acabado de acontecer. Parecia mentira, mas tinha mesmo.

sábado, 2 de abril de 2011

O que pensam os italianos de Berlusconi?

Ou o amam ou o odeiam. Não há meio termo. Há quem lhe chame uma "anomalia macroscópica" e "um fenómeno de massas".

Se quiserem, leiam aqui o texto que escrevi para a Notícias Sábado, uma das revistas do Diário de Notícias.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Beijinhos ao contrário


Quem me conhece sabe que, já por mim, não sou pessoa com gestos muito coordenados. Tenho de me concentrar antes de descer uma escadaria para não me estatelar no chão, sempre que vou estender a roupa reflicto sobre o que as minhas mãos terão de fazer para não ir tudo parar ao estendal do vizinho e não são raras as vezes que o conteúdo da minha chávena de café salta lá de dentro para colorir a mesa.

Como se a minha luta diária por uma melhor coordenação motora não fosse suficiente, chego aqui e ainda me trocam as voltas. Então esta gente não me dá beijinhos primeiro pelo lado esquerdo? Sempre que vou cumprimentar alguém, digo para mim: “Sofia, primeiro tens de dar a bochecha esquerda, a bochecha esquerda, a bochecha esquerda.”

Mas depois chega a hora H e pareço uma anormal. Nem para a esquerda, nem para a direita, nem para lado nenhum. Fico ali com a cabeça aos círculos e com um interlocutor um pouco confuso, sem saber o que esperar da portuguesa, a nova raça que acabou de conhecer.

Desde que cá estou já foram dois chochos e muito corante na cara logo a seguir. Pior é que a coisa não está propriamente a melhorar. A solução agora é ficar parada, de alma aberta e lábios cerrados, à espera que venham de encontro a mim.

quarta-feira, 30 de março de 2011

São servidos?


É dia de inauguração cá em casa. Agora que temos forno, o mundo da culinária que nos aguarde!

Hoje foi a vez do lombo de porco com laranja marchar para o pirex. Já tenho os ingredientes para o cheesecake, a quiche e o entrecosto com mozarela. Estou a tornar-me numa verdadeira casalinga e a gostar mais da aventura do que o que pensava.

Comida, amigos e um baralho de cartas. Não dá para pedir mais.

terça-feira, 29 de março de 2011

“O drama, o horror, a tragédia…”

Imaginem que foi o Artur Albarran quem disse esta frase para perceberem a dimensão da coisa.

Quando achei que os meus dias negros em Florença tinham acabado, eis que abro o tampo da (nova) máquina da roupa, no final da lavagem, e todo o chão se enche de água. Com a pressa de acudir a tudo, tropeço no detergente que entretanto tinha mudado de poiso para não morrer afogado e grande parte do pozinho branco espalhou-se pelo chão.

Quando o problema está aparentemente resolvido, vou à janela estender o tapete encharcado e eis que oiço uma voz do além: “São vocês que têm um bebé que começa a chorar à meia-noite não são? Eu não aguento mais, vou chamar a polícia!” “Não, nós somos apenas duas pessoas, estudantes portugueses.” “Perceberam bem o que eu disse? Eu sei que são vocês que têm um bebé e se o barulho voltar, a polícia vem aqui ao prédio.”

E foi assim que num dia em que tudo corria bem, conheci o meu novo vizinho. Ele rendeu-se, deitou-se no chão numa manifestação de desespero. A mim apetece-me gritar, ou quem sabe chorar como um bebé, mas só a partir da meia-noite.

"Diga não às casas de banho mistas"

Este seria um dos slogans principais da minha campanha caso me candidatasse ao lugar de Berlusconi. Esta coisa de entrar na casa de banho e ver um homem, às vezes muitos, a lavar as mãos faz-me faísca nos neurónios. Fico sem saber donde vim nem para onde vou.

Não faz sentido nenhum a pessoa levantar-se da mesa do bar para ir retocar o batom e ver se está tudo bem com o rímel e o lápis preto e de repente, a partilhar o mesmo espelho, surge reflectida a imagem de um gandulo que não desvia o olhar.

Sempre que entro numa casa de banho aqui em Itália, a sensação repete-se e penso: “Ai Jesus que me enganei e vou ver o senhor desnudo no urinol, deixa-me já voltar para trás”. E depois não, está tudo bem. Homens e mulheres passeiam tranquilamente no mesmo espaço,  partilham as mesmas sanitas, os mesmos sabonetes. Tudo.

Desde pequenina que me ensinaram que no que ao xixi diz respeito, as meninas vão para um lado, os meninos para o outro. E agora, só porque mudei de país, devassam-me as minhas aprendizagens mais básicas?

Não há cusquices nem maledicências entre amigas. Nem sequer dá para puxar os collants para cima sem ter de esperar na fila. Aquela coisa da entrada triunfal depois de termos penteado o cabelo e retocado a maquilhagem também perde a piada porque o presente é desembrulhado antes do tempo.

E isto é tão anti-natura! Um atentado à privacidade feminina.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Apaixonei-me pela minha casa, e agora?


Não tenho aqui vindo porque ando enamorada. De há um dia para cá que para extravasar a minha felicidade faço uma espécie de patinagem artística com meias nos três metros de chão que tenho livres na minha nova casa.

Já me tinha esquecido do que era dormir sem cheiro a humidade, tomar banho sem ter a cabeça quase a tocar no tecto (e olhem que eu só tenho metro e meio), ter mais do que um pano da loiça, um jogo de lençóis e uma panela.

A minha nova casa é simplesmente linda e eu sou uma inquilina que se baba muito sempre que olha para ela. Tem um candeeiro que me ilumina os escritos, uma cama de verdade - em vez de um sofá cama a cair de podre – um polibã que dá para três pessoas tomarem banho ao mesmo tempo (não discuto gostos alheios), um fogão vitrocerâmico em vez do amigo bico eléctrico, um ferro de passar que só é pena não trabalhar sozinho e um sem fim de utensílios de cozinha.

Tem ainda A janela, grande com portadas brancas a fazer lembrar as vivendas chiques dos filmes americanos. E pronto, assim de repente, não me lembro de mais nada.

Para rematar, fica a dois minutos a pé da Ponte Vechio.

Vim aqui contar-vos isto e agora vou-me só esticar ali na colcha vermelha a ver notícias. Estive sem televisão quase dois meses pelo que pareço a criança a quem deram um brinquedo novo.



sexta-feira, 25 de março de 2011

Primi piatti: a melhor forma de passar uma fomeca valente

O conceito de refeição por aqui é um bocado para o enfarta brutos. Antipasti, primi piatti, secondi piatti, contorni, dolce. Vai tudo para dentro em pouco mais de uma hora. Para quem já era anafadinha com a sopa e o peixe cozido da mamã está a modos que lixada, mas isso é outra conversa.

Serve este post para tornar pública a minha indignação perante a forma como esta gente come massa. A pessoa pede um primi piatti, que é a opção mais barata do restaurante, com a desculpa não que é tesa mas que o estômago não aguenta tanta comida de uma vez e sai-lhe um prato de esparguete com azeitona, tagliatelle com molho de tomate ou penne regado com um pacote de natas de culinária. Só.

Portanto, eles comem massa com massa, rapam o prato e vão à sua vidinha. Há quem se empanturre com tudo o que tem direito, é certo, mas também há quem fique regalado ali com uma dúzia de fiozinhos de esparguete.

Carne, peixe e outros ingredientes sofisticados é coisa para a volta seguinte à qual geralmente não chego porque se um primi piatti não custa menos de 10 euros, se me alambazo a brincadeira fica sem grandes esforços por uns 30 ou 40.

Nem sequer é que eu vá muito a restaurantes mas faz-me espécie, pronto.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Montras pirosas (4)

Mais uma amostra daquilo de que a mente (perturbada?) dos comerciantes italianos é capaz. Tudo na mesma loja de decoração, numa rua secundária de Verona.








Fotografias de Ricardo Lopes




Como vencer a falta de um carro*

  


Hoje de manhã foi assim: Encaixotámos, emalámos, fechámos com fita-cola e upa que lá fomos nós, as caixas e os sacos montados em cima da bicicleta rumo à casa nova.

E o contente que isto me deixou? Atravessei Florença inteira com um motociclo a pender naturalmente para o desequilíbrio, pessoas. Eu, que há um mês atrás não tinha bem a certeza de como funcionavam os pedais, derrapei nas curvas, apitei irritada aos turistas que não se desviavam do caminho, meti o pé no chão, tirei o pé do chão, contornei obstáculos e, ao mesmo tempo em que fazia isto tudo, equilibrei uma mala no ombro. Ufa!

Terminámos o feito os dois incrédulos na forma como tudo tinha decorrido com tal calma e tranquilidade. Nada de joelhos esmurrados, narizes partidos ou atropelamentos. Uma verdadeira operação mãos limpas.

Ver "Cuidado Japinhas, eu tenho uma bici"

*Expressão roubada do Nós Vencedores, o (excelente) programa da Sónia Morais Santos na Antena 1

quarta-feira, 23 de março de 2011

Adeus Sócrates, até nunca!

Fotografia de Ricardo Lopes


Podia decorrer aqui em análises profundas mas, há minutos, o jornalista João Miguel Tavares disse durante a emissão da TSF qualquer coisa como isto: “Entre uma melancia podre e outra por abrir, por muito má que seja, a segunda será com certeza uma melhor opção”*.

Assim de repente, é o melhor resumo do que penso.

*Não sei se foram exactamente estas as palavras, estou a ouvir a TSF em directo e não tenho como andar para trás.

Querida máquina de lavar e secar...

É com tristeza que me despeço de mais um membro do meu roupeiro. Era a favorita, a única camisola de manga curta com cara de festa que trouxe para terras italianas. Por alguma razão, quando te confiei esta relíquia tinha um tecido liso e sedoso. Por alguma razão, quando te escolhi o programa, te avisei que não podias lavar nem secar a mais de 30 graus.

Mas tu, cabra, teimas em destruir o meu armário como um serial killer profissional. Primeiro foram as quatro calças de ganga que transformas-te numa rodilha e deixaste inutilizadas durante mais de um mês (só as poderei voltar a vestir para a semana quando mudar de casa e um ferro baixar sobre a minha roupa), depois o casaco de malha que deixaste feito em fanicos, mais as meias e cuecas que comprei especialmente para Itália e tu encheste de borboto como se fossem panos velhos.

Houve ainda os tapetes novos do IKEA, os panos da loiça e a tolha de mesa que só não comeste por inteiro porque não devias gostar do tipo de tecido. E agora…e agora, a dois dias de te abandonar, deste o golpe mestre.

Quero que saibas que o pontapé que levaste hoje foi só uma pequena ameaça. Amanhã, dar-te-ei uma vigésima hipótese, vou entregar-te com amor e carinho alguns dos meus vestidos. Se te portas mal, com o pó que estou à senhoria, és capaz de encostar as botas por morte súbita.