Isto que vêem aqui ao lado é uma espécie de santuário ao qual é dedicado diariamente o devido culto. Basta-me respirar para ouvir logo a reprimenda: “Tem cuidado com a maqueta!” Mas se ando, levanto um braço ou escorrego no ínfimo espaço no qual me é possível deslocar, sinto-lhe o coração palpitante.
Abre muito os olhos e fica estático, à espera do pior.
Eu, que no início do namoro cheguei a ter diálogos com as estúpidas das maquetas porque o meu namorado lhes tinha mais estima do que a mim, sorrio triunfante como quem diz: “Toma lá que ainda não foi desta mas é melhor que a tires daí porque o dia de amanhã, ninguém sabe.
Esta maqueta é o Jesus Cristo cá de casa, só ainda não nos ajoelhámos os dois a prestar-lhe homenagem porque não calhou. Açambarcou-me os frascos da maionese e do doce e levou igualmente a boa disposição do meu namorado.
O pior de tudo? Ele agora quer arrumá-la perto da caixa onde guardo os meus sapatos, e já me avisou: “Depois não se pode é ir ali mexer!”. Ah, ah, ah até a casa vai abaixo. Vai tudo muito bem, amor, eu respeito a tua fé, mas não te metas com a minha.
Sem comentários:
Enviar um comentário