segunda-feira, 11 de abril de 2011

Italiano é bicho mau quando o assunto é futebol

Ontem à tarde saímos para ir passear ao jardim. Quando estacionámos a bicicleta, perto do estádio da Fiorentina, antevi pelo colorido violeta das ruas apinhadas de gente que o derby com o A.C Milan estava para começar.

“Vês, cortaram a estrada só para passarmos. Temos bilhetes VIP”, disse-me ao mesmo tempo que me mostrou dois papelinhos amarelos com os nossos nomes. Comecei aos pulos no meio da rua. Há tempos que andava a querer ir ao estádio, apreciar os tifosi, ouvir-lhes os cânticos, ver como comemoravam os jogos e confirmar que o futebol tem mesmo uma linguagem universal. Isso tudo embrulhado numa surpresa, soube ainda melhor.

À entrada fiquei logo a saber que os seguranças daqui são uns mauzões, proíbem máquinas fotográficas, não vá as ditas transformarem-se em perigosas armas, mas não revistam malas e perguntam aos adeptos: “Tem very-lights?” Claro que todos lhes respondem: “Tenho sim senhora, tome lá, fique com eles para atirar foguetes esta noite”.

O nosso lugar era numa bancada neutra mas estes amigos não brincam com coisas sérias. O A.C Milan marcou no início da primeira parte e houve um desgraçado que teve o azar de comemorar com afinco o golo do seu clube. Sabem o que são dezenas de pessoas levantadas numa bancada a mandar alguém sair dali? Pois, foi mais ou menos isso. Vi o terror nos olhos azuis do coitado (e corajoso porque se manteve na mesma cadeira até ao final).

Pela raiva com que viveram a coisa, devia ter ali ao meu lado o adepto 1,2,3 e 4 da Fiorentina. Eu cá agradeci ter comprado um cachecol violeta no início do jogo e agarrei-me a ele como quem dizia: Por favor não me cortem às postas por me ter rido de vocês, por favor, sou uma das vossas, não vêem, não vêem?

A maioria dos adeptos eram fiorentinos e eu caso a coisa desse para o torto já tinha o discurso preparado: “Sou de Portugal, o país do Rui Costa.” Aí era vê-los de joelhos aos nossos pés. A experiência serviu também para aprender algum vocabulário útil para quando algum taxista voltar a tentar passar-me a ferro. Fiquei a saber que sembra napoli [parece Nápoles] e bastardi é insulto grave por aqui e que os italianos desejam com alguma frequência que os seus jogadores rompano os outros todos, que deve ser o mesmo que gritar: “Deixa-o em fanicos, caraças!”.

Torci pelos Viola com afinco, que tenho facilidade em vestir a camisola dos sítios de que gosto. A dez minutos do final - com a Fiorentina a perder 2-0 - já só pedia um golo para poder ver o casal de velhotes (por volta dos 80 anos) dos binóculos a comemorar. O Vargas fez-me a vontade e digo-vos ver os dois senhores de binóculos pendurados ao pescoço abraçados foi coisa linda de se apreciar. 

Ah, e futebol é realmente igual em todo o lado. Os mesmos cânticos, as mesmas expressões, a mesma revolta contra o árbitro, a mesma magia.

Mudou a língua e os decibéis, os italianos têm uma goela um bocadinho melhor do que a nossa.

   
  



                                                

1 comentário:

  1. Ah, tens tanto de ir a um futebol no Brasil. Isso de comemorar e mandar o senhor se calar é coisa mais normal no Brasil... E colocamos nossas goelas a todo vapor também. Só não vai torcer pro Flamengo, por favor, pois tu és uma pé-fria do caraças... que o diga o Sporting e, agora, a Fiorentina.

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