quinta-feira, 31 de março de 2011

Beijinhos ao contrário


Quem me conhece sabe que, já por mim, não sou pessoa com gestos muito coordenados. Tenho de me concentrar antes de descer uma escadaria para não me estatelar no chão, sempre que vou estender a roupa reflicto sobre o que as minhas mãos terão de fazer para não ir tudo parar ao estendal do vizinho e não são raras as vezes que o conteúdo da minha chávena de café salta lá de dentro para colorir a mesa.

Como se a minha luta diária por uma melhor coordenação motora não fosse suficiente, chego aqui e ainda me trocam as voltas. Então esta gente não me dá beijinhos primeiro pelo lado esquerdo? Sempre que vou cumprimentar alguém, digo para mim: “Sofia, primeiro tens de dar a bochecha esquerda, a bochecha esquerda, a bochecha esquerda.”

Mas depois chega a hora H e pareço uma anormal. Nem para a esquerda, nem para a direita, nem para lado nenhum. Fico ali com a cabeça aos círculos e com um interlocutor um pouco confuso, sem saber o que esperar da portuguesa, a nova raça que acabou de conhecer.

Desde que cá estou já foram dois chochos e muito corante na cara logo a seguir. Pior é que a coisa não está propriamente a melhorar. A solução agora é ficar parada, de alma aberta e lábios cerrados, à espera que venham de encontro a mim.

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